sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Lições sobre a morte

E faleceu o irmão mais velho do meu pai, o Tio Zeca, como a gente chamava. E é claro que há toda aquela tristeza diante da vida que se vai e do vazio que fica no lugar daquela pessoa. Eu gostava dele, apesar de não manter uma relação de proximidade com praticamente ninguém da minha família por motivos diversos.
Porém, a morte também é sempre uma oportunidade de reflexão e aprendizado. E foi assim que aconteceu:
Após recebermos aquele típico telefonema bem cedo de manhã e ficarmos sabendo do acontecido, eu e minha mulher estávamos decidindo sobre ir ao velório, como chegar ao local e se levaríamos as crianças. Nesse ponto sempre achei importante que a criança fosse exposta a esse tipo de situação quando ela surgisse, afinal, fora os impostos essa é a única certeza da vida. Porém meus filhos estão naquela fase onde tudo é bagunça e embora eles sempre tenham se comportado bem pelo menos fora de casa, dessa vez eu estava um pouco receoso em levá-los.
E quando fui falar com eles, eis que meu filho me faz a seguinte colocação: "Mas pai, eu nunca vi uma pessoa morta"! Depois dessa, só me restou explicar a ele o que aquilo significava para as pessoas e como ele deveria se comportar.
No dia do funeral, chegamos ao cemitério e após cumprimentarmos todos os conhecidos fomos até a sala do velório.  Ele se comportou perfeitamente bem, observou meu falecido tio através daquele vidro no caixão e, como havíamos combinado, deixou para fazer suas perguntas do lado de fora da sala. Suas perguntas foram: como ele foi colocado no caixão; quem o levou até aquela sala; se ele seria enterrado e ninguém ia mais vê-lo. Até aí, tudo dentro do esperado. Até que ele me diz:
- Papai, acho que quando as pessoas morrem elas não vão pro céu.
- Por que você acha isso?
- Porque seu tio morreu e ele ainda está lá.
 Apesar de compartilhar essa mesma ideia com ele, expliquei o melhor que pude que segundo as pessoas acreditam não é exatamente o corpo que vai pro céu, mas sim algo que chamam de alma. E que ele só precisa decidir no que acredita quando ficar mais velho e entender melhor essas coisas.
Não tem como não admirar a sagacidade das crianças.