quinta-feira, 14 de março de 2019

Into Darkness

Caramba, 5 anos que não escrevo nada aqui! Mas é minha cara, nunca levar adiante o que eu começo. Gostaria de ser mais persistente em muitas coisas, mas a vida vai cansando e vamos nos economizando para não nos desgastarmos demais. Porém como não se desgastar com esses dias de escuridão que se abateram sobre nós?
Eu sei que a história tem um movimento pendular, como o pêndulo de um relógio antigo: um dia estamos numa posição e, noutro dia, em outra. Por 20 ou 30 anos estivemos numa posição de avanço social e civilizacional, mesmo que tímida. Mas agora nosso relógio está voltando pra posição contrária, a da barbárie. Isso não é novidade, houve uma idade das trevas antes do Renascimento, e antes da idade das trevas tivemos a Antiguidade Clássica que nos deu as ideias de democracia, por exemplo. Que infelicidade que será nossa geração a mergulhar nas trevas novamente!
Mas como chegamos até aqui?
Quem dera eu tivesse a resposta pra isso!
Posso dizer o que eu acho, apesar da minha opinião ter zero relevância!! Eu acho que esse ciclo não começou agora, mas sim no final dos anos 80 e começo dos 90 com a expansão do capitalismo para além do sistema econômico e das ideologias restritas a esta área. Deixamos o capitalismo substituir nosso senso de comunidade, de solidariedade e de empatia. Os recursos sempre foram limitados, seja na forma de educação, emprego, bens de consumo, etc, mas já estivemos mais dispostos a uma postura menos competitiva e destrutiva. A extrema competição que nos sujeitamos desde criança, concorrendo com os amiguinhos por aquela vaga na melhor escola, em seguida no vestibular e depois pra arrumar um emprego.
Como eu disse, eu sei que os recursos são limitados. O problema é que não só nos acostumamos a ver pessoas ficarem pelo caminho mas também a empurrarmos as pessoas para o barranco na beirada do caminho, e ainda rirmos disso! O que quero dizer é que ao invés de lutarmos juntos por mais vagas (e qualidade) nas escolas e nas faculdades, por exemplo, nos separamos e aceitamos que esta é uma luta individual e passamos a pagar quando deveríamos reivindicar como sociedade. O mesmo se aplica a muitas outras áreas da nossa vida, temos essa ideia de que o individual é a resposta para um problema coletivo. Saúde, habitação, transporte: passamos a tentar solucionar todos esses problemas de maneira individual, pagando para obter melhores serviços e isso por sua vez torna nossa vida cada vez mais difícil, a cada dia que passa precisamos de mais dinheiro para manter nosso padrão de vida, e vamos sacrificando cada vez mais de nós mesmos na busca por essa segurança. Deixamos de visitar nossos pais, relegamos nossos filhos aos cuidados de terceiros, vamos aguentando nossas dores até que virem doenças e assim vai. Aí, quando a gente vê, estamos mergulhados no caos.
Falando sobre segurança, aliás, ontem aconteceu aquele hediondo massacre na escola em Suzano que não vou comentar aqui. Mas observem bem as soluções propostas pelas autoridades e parte da sociedade: todas envolvem que o cidadão assuma para si o problema da segurança pública e se arme! Como assim? Os professores estarão armados em sala de aula? Serão treinados para abater crianças, é isso?
Não podemos assumir a responsabilidade do Estado! Segurança pública é um problema coletivo, não individual!!
Percebem o padrão? Vamos nos perdendo nessa loucura e ficando cada vez mais psicóticos, e vão aparecendo "líderes" num estágio muito pior dessa psicopatia que acabam envolvendo a nós todos nessa doença.
Pra não acabar o texto num tom tão triste, deixo uma fala do mago Gandalf, personagem de O Hobbit e Senhor dos Anéis:

Saruman acredita que apenas um grande poder pode manter o mal afastado, mas não é o que aprendi. São as pequenas ações das pessoas comuns que mantém longe a escuridão. Pequenos atos de gentileza e amor.