domingo, 9 de setembro de 2012

1992

Estava eu sábado à noite em casa, dando uma olhada na maravilhosa programação da TV aberta, quando encontrei na MTV um top 10 de  músicas (dã) de 1992 e comecei a divagar sobre como era a vida naquele longínquo ano do século passado.

No meu caso, era bem simples:  catorze anos, morava na Vila Joaniza, aluno da 7ª série da gloriosa EMPG Alferes Tiradentes, não tinha telefone em casa e muito menos celular, que era absurdamente caro e tinha o tamanho de uma caixa acústica, nada de computador, vídeo game era um Dynavision 2 de 8 bits, não tinha nem vídeo cassete nem CD player, tinha uma TV colorida de 20 polegadas e uma preto e branco de 16, e ainda estava nas aulinhas de inglês. Morava num quintal que parecia enorme, tinha várias casas no estilo vila do Chaves, brincava de carrinho de rolimã com meus primos, assistia Jaspion e Changeman e viajava pra Minas Gerais com meus pais num fusca vermelho. Ah, e meus avós estavam vivos e bem.
Com o perdão do clichê, parece que foi ontem. Dormi em 1992 e acordei em 2012, meio perdido e com aquela sensação de assombro de quem levou um tombo da cama. Que fim levaram aqueles dias? Não tenho certeza de ter vivido esses vinte anos e ter chegado até aqui, só me lembro de uma tarde quente de verão, minha mãe me chamando na cerca do quintal para jantar e fazer a lição de casa das professoras Suzan e Audália. Como disse Cecília Meireles: "Em que espelho ficou perdida a minha face?"

Ah sim, a música daquela época era bem melhor também. O top 10 tinha U2 em primeiro, Pearl Jam em segundo e Nirvana em terceiro. Não sei com quais bandas de hoje poderia-se fazer uma lista semelhante.
Legal demais!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Viados e iogurte

Tem coisas que não mudam, e entre elas com certeza está o medo que as pessoas tem em relação àquilo que é diferente, que não conseguem compreender nem aceitar. Não sei o que leva tanta gente a assumir que só vale aquilo que todos fazem igual, que não causa nem um mínimo de espanto bem no estilo Hobbit  de ser, sabem? Nenhuma aventura nem nada que chame atenção.
Pois bem, eis  o que me acontece diariamente no metrô: desenvolvi o hábito de sempre levar uma salada de frutas e um iogurte para comer nos intervalos entre uma volta e outra, pois não quero chegar aos 40 com pontes de safena e cirurgias no estômago. Mas é claro que isso não passou despercebido aos atentos olhares de alguns selecionados "colegas", que não aguentam e sempre soltam aqueles edificantes comentários relacionando minha comida com minha sexualidade.
Ora, um homem que troca um lanche gorduroso ou uma feijoada na quarta-feira por frutas e iogurte só pode ser viado mesmo, não há dúvidas. E não foram poucas as vezes que falaram isso pra mim, através de indiretas claro, porque apesar de eu ser o suposto viado, ninguém foi homem o bastante pra falar o que pensa na minha cara.
Esta é uma das coisas que tive mais dificuldade pra me acostumar no metrô, esse pensamento rançoso de algumas pessoas que pararam no tempo no dia em que foram contratadas e tem "aquela velha opinião formada sobre tudo". E os que pensam diferente devem ser desmoralizados e colocados em seu devido lugar, humilhados, para que tal afronta ao comportamento estabelecido não se repita e os force a encarar a pequenez de suas vidas.

A nova arma contra a moral e os bons costumes

sábado, 14 de julho de 2012

Férias!

Eis que estou na metade das minhas merecidas férias. Até agora o que mais fiz foi resolver pendências, como mandar meu carro pra oficina e tentar faze-lo ser aprovado na Controlar (feito que ainda não consegui desde o ano passado). Pelo menos pintei minha casa e cobri as pinturas rupestres feitas pelas crianças. Passeio mesmo só uma viagem no Expresso Turístico da CPTM que foi muito boa. Nesta próxima semana iremos pra Barretos, ficar uns dias à toa só comendo e zoando. Pena que tudo indica que vai estar frio, mas se não chover já está bom.


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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Eu, crente

Na minha vida até agora houve duas perguntas que sempre me fizeram e sempre me incomodaram. A primeira delas era comum quando eu ainda era professor, a famosa "você só dá aula ou também trabalha"? Retrato da visão que as pessoas tem dos professores, criaturas diminuídas a ponto de sua função não mais ser vista sequer como emprego - são meros objetos da sala de aula, como lousas, canetas e etc. A segunda pergunta já havia algum tempo que não ouvia, mas recentemente fui lembrado de sua existência: "Você é evangélico"?

Eu, evangélico? Retrucava com um "Por quê?" mesmo já sabendo que a resposta era baseada em duas coisas: no estereótipo do evangélico e no fato de aparentemente eu me encaixar na descrição. As pessoas pensam que evangélicos são sempre educados, não bebem, não fumam, não fodem, não reclamam, enfim, são representações fiéis do cristo na terra! Claro que não é verdade, pois religião não define caráter e mesmo que definisse por que não pensam que eu sou católico, umbandista ou budista? Só os evangélicos conseguem ser tão bons? E aí que está o mais engraçado, alguém pensar que eu reúno essas qualidades! Posso até não beber e não fumar, mas reclamo pra caramba, guardo meus pequenos rancores e sou educado em geral simplesmente porque é melhor viver com o mínimo de civilidade. Não tem nenhuma crença envolvida nisso e felizmente não sou a única pessoa que age assim, conheço muitas pessoas bem melhores que eu que não são necessariamente religiosas, muito menos evangélicas.

Tem uma frase naquele filme O Corvo que traduz bem o que eu sinto quando me perguntam isso, e ela é dita por um dos vilões: "..e o demônio envergonhou-se ao sentir o quanto a bondade pode ser terrível.."


PS.: Não fiquem bravos comigo meus amigos evangélicos, não tenho absolutamente nada contra alguém seguir uma religião, só acho que ela não é necessária para que alguém seja considerado bom.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Diário de bordo (1)

Ontem o metrô estava mais lotado que de costume, e quando cheguei em Sé demorei um tempão pra conseguir fechar as portas. Foi quando uma mulher começou a reclamar comigo pela janela da cabine- não sei o que ela disse porque as janelas estavam fechadas e eu estava ocupado com as portas, mas vi que ela estava me xingando mesmo.
Claro que minha vontade é xingar também, mandar pro inferno, só que não vou arriscar uma advertência por causa disso e nessas horas o que me alivia é pensar que eu sou o único que está ganhando dinheiro para estar naquele trem, enquanto ela está lá, todo dia, pagando o pato por 20 anos de descaso do governo que ela provavelmente ajudou a eleger. Talvez eu devesse ter pena? Não, porque aqui em SP as pessoas tem exatamente o que merecem por serem tão passivas. Se dependesse de mim, cobraria R$30,00 em cada pedágio, mandaria fazer inspeção veicular todo mês, a tarifa do metrô seria R$10,00 no mínimo.
Ah, e não adianta xingar o operador do trem e nenhum outro funcionário. Quando estiverem lá espremidos na Sé ou dentro do trem pensem que é isso que seu governo acha que vocês merecem. E ele está certo.

Achando ruim? Reclame com seus governantes!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Passing by

Ultimamente tenho sentido um pouco mais a passagem do tempo, como se tivesse chegado num ponto da vida onde é possível se sentir um pouco velho sem de fato sê-lo. Pensando em termos históricos, sou velho; nasci num tempo em que a maioria absoluta das pessoas assistia TV em preto e branco, não existia nem VHS muito menos CD ou DVD, telefone em casa era artigo de luxo, celulares não existiam, computadores só em empresas, internet então nem pensar. Mas nem era isso que eu queria falar...
O que mais me dá essa sensação é ver as pessoas fazendo em suas vidas tudo o que eu também fiz, essas coisas comuns como namorar, estudar, arrumar emprego, e aí é que está: eu já fiz. Já fiz tudo isso e mais um pouco, e provavelmente algumas dessas coisas não vou fazer de novo. Sinto uma certa saudade de ser mais novo, não por estar arrependido de ter vivido como vivi, mas sim por causa dessa inevitabilidade do tempo que está passando tão rápido e que já me dá um preview no espelho daquilo que vem por aí.
Tudo é transitório e não devemos nos apegar a nada, diz o budismo. Concordo, mas é tão dificil não se apegar à vida.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Loviscool

Encontrei no trem um panfleto da igreja universal sobre amor e sexo, o que por si só já é estranho porque pensava que o negócio deles fosse só dinheiro mesmo.
Na última página é que estava a pérola, uma chamada para a Caminhada do Amor de "alcance mundial", só que o local fica à escolha dos participantes. O importante é que todos comprem o kit com duas camisetas Love School, um cd com dicas de como conversar com a outra pessoa (deve ser ouvido antes da caminhada) e o mais legal: um roteiro com 20 perguntas para serem usadas no dia do encontro.

Agora imagina você e seu ser amado vestidos assim, passeando por um parque e fazendo perguntas previamente selecionadas! Não tem erro, vai desencalhar!

Nem eu precisei apelar assim

sexta-feira, 23 de março de 2012

Bondade alheia

E ontem à noite, do nada, caiu o maior temporal bem na hora que eu estava voltando pra casa. Quando desci da lotation perto de casa já estava preparado para o banho de água gelada, que começou ali mesmo no abrigo do ponto de ônibus cujo teto era só buraco.
Junto comigo desceu uma moça com a mesma preocupação, só que ela tinha um daqueles guarda-chuvas minúsculos que as mulheres guardam nas bolsas desafiando as leis da física. Para minha surpresa, a dama em questão me ofereceu uma carona debaixo da "sombrinha" já que após um breve small talk descobrimos que iríamos na mesma direção. Assim, cheguei em casa apenas 90% molhado e dado o espaço protegido de que dispunhamos creio que ela não ficou muito melhor.
Interessante que ainda exista gente disposta a dividir um guarda-chuva com um completo estranho.
Na verdade, eu sempre tive vontade de fazer isso também, oferecer a cobertura do meu guarda-chuva a um(a) estranho(a). Nunca o fiz por causa dos julgamentos que tal boa ação poderia acarretar. Se eu oferecesse a um homem, provavelmente este pensaria "é viado"; se oferecesse a uma mulher, esta pensaria "é tarado". Constrangimento.
Acho que tem coisas que só uma mulher pode fazer sem levantar estranhas suspeitas; eu não pensei que ela fosse uma louca ou tarada. Aceitei o gesto de bom grado e compartilhamos aquele espaço semi-seco abaixo do guarda-chuva, sem nem mesmo sabermos os nomes um do outro. Que tempos estes em que estranhamos a bondade!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Sobre crianças e deus

Me lembro que no ano passado, naqueles deslizamentos no Rio de Janeiro, durante o resgate das vítimas encontraram um pai morto sobre seu filho ainda vivo; ele usou seu corpo como escudo para proteger o garoto e conseguiu, no maior ato de coragem e nobreza que um ser humano pode ser capaz. Lembro também que duas meninas foram atropeladas e mortas, após saírem da igreja, por um garoto de 16 anos que dirigia o carro do pai. E ainda houve o caso daquele maluco que invadiu uma escola e matou não sei quantas crianças. Uns três dias atrás 22 crianças morreram num acidente de ônibus na Suíça de uma só vez.
Tudo isso me fez pensar no péssimo  gerenciamento que deus faz sobre a Terra, se é que tal ser existe. Vejam o primeiro exemplo que citei, do pai que protegeu o filho: Deus nunca fez isso pra ninguém, ou será que alguém já viu uma mão gigante segurando o barranco que desliza? Não culpo deus pelas desgraças do mundo, pois 99% delas são causadas por nós mesmos, mas penso que Ele esteja sendo no mínimo negligente. Chega a me perturbar quando alguém me diz "vai com deus" ou "deus te proteja". Mentiras convenientes. Deus não protege ninguém e, mesmo que protegesse, por que este benefício seria só para alguns e não para todos? Por que ele não protegeu as crianças de serem esmagadas e assassinadas? Afinal, se tem algo em comum entre todas as crenças é a de que somos todos filhos d'Ele.
Ah, mas podem dizer: "foi vontade de deus", "deus escreve certo por linhas tortas", "deus trabalha de forma misteriosa, que não compreendemos". Ora, será que alguém teria coragem de dizer isso pros pais dessas crianças? Talvez deus simplesmente não se importe com nada disso, ou já foi embora, ou nunca existiu, e as pessoas creem nele apenas porque torna mais fácil aceitar a dura realidade. Como disse meu filósofo preferido: "O que seria de nós sem o conforto do que não existe?"
A verdade, meus caros, é que no fim estamos sempre sós.