quarta-feira, 25 de abril de 2012

Eu, crente

Na minha vida até agora houve duas perguntas que sempre me fizeram e sempre me incomodaram. A primeira delas era comum quando eu ainda era professor, a famosa "você só dá aula ou também trabalha"? Retrato da visão que as pessoas tem dos professores, criaturas diminuídas a ponto de sua função não mais ser vista sequer como emprego - são meros objetos da sala de aula, como lousas, canetas e etc. A segunda pergunta já havia algum tempo que não ouvia, mas recentemente fui lembrado de sua existência: "Você é evangélico"?

Eu, evangélico? Retrucava com um "Por quê?" mesmo já sabendo que a resposta era baseada em duas coisas: no estereótipo do evangélico e no fato de aparentemente eu me encaixar na descrição. As pessoas pensam que evangélicos são sempre educados, não bebem, não fumam, não fodem, não reclamam, enfim, são representações fiéis do cristo na terra! Claro que não é verdade, pois religião não define caráter e mesmo que definisse por que não pensam que eu sou católico, umbandista ou budista? Só os evangélicos conseguem ser tão bons? E aí que está o mais engraçado, alguém pensar que eu reúno essas qualidades! Posso até não beber e não fumar, mas reclamo pra caramba, guardo meus pequenos rancores e sou educado em geral simplesmente porque é melhor viver com o mínimo de civilidade. Não tem nenhuma crença envolvida nisso e felizmente não sou a única pessoa que age assim, conheço muitas pessoas bem melhores que eu que não são necessariamente religiosas, muito menos evangélicas.

Tem uma frase naquele filme O Corvo que traduz bem o que eu sinto quando me perguntam isso, e ela é dita por um dos vilões: "..e o demônio envergonhou-se ao sentir o quanto a bondade pode ser terrível.."


PS.: Não fiquem bravos comigo meus amigos evangélicos, não tenho absolutamente nada contra alguém seguir uma religião, só acho que ela não é necessária para que alguém seja considerado bom.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Diário de bordo (1)

Ontem o metrô estava mais lotado que de costume, e quando cheguei em Sé demorei um tempão pra conseguir fechar as portas. Foi quando uma mulher começou a reclamar comigo pela janela da cabine- não sei o que ela disse porque as janelas estavam fechadas e eu estava ocupado com as portas, mas vi que ela estava me xingando mesmo.
Claro que minha vontade é xingar também, mandar pro inferno, só que não vou arriscar uma advertência por causa disso e nessas horas o que me alivia é pensar que eu sou o único que está ganhando dinheiro para estar naquele trem, enquanto ela está lá, todo dia, pagando o pato por 20 anos de descaso do governo que ela provavelmente ajudou a eleger. Talvez eu devesse ter pena? Não, porque aqui em SP as pessoas tem exatamente o que merecem por serem tão passivas. Se dependesse de mim, cobraria R$30,00 em cada pedágio, mandaria fazer inspeção veicular todo mês, a tarifa do metrô seria R$10,00 no mínimo.
Ah, e não adianta xingar o operador do trem e nenhum outro funcionário. Quando estiverem lá espremidos na Sé ou dentro do trem pensem que é isso que seu governo acha que vocês merecem. E ele está certo.

Achando ruim? Reclame com seus governantes!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Passing by

Ultimamente tenho sentido um pouco mais a passagem do tempo, como se tivesse chegado num ponto da vida onde é possível se sentir um pouco velho sem de fato sê-lo. Pensando em termos históricos, sou velho; nasci num tempo em que a maioria absoluta das pessoas assistia TV em preto e branco, não existia nem VHS muito menos CD ou DVD, telefone em casa era artigo de luxo, celulares não existiam, computadores só em empresas, internet então nem pensar. Mas nem era isso que eu queria falar...
O que mais me dá essa sensação é ver as pessoas fazendo em suas vidas tudo o que eu também fiz, essas coisas comuns como namorar, estudar, arrumar emprego, e aí é que está: eu já fiz. Já fiz tudo isso e mais um pouco, e provavelmente algumas dessas coisas não vou fazer de novo. Sinto uma certa saudade de ser mais novo, não por estar arrependido de ter vivido como vivi, mas sim por causa dessa inevitabilidade do tempo que está passando tão rápido e que já me dá um preview no espelho daquilo que vem por aí.
Tudo é transitório e não devemos nos apegar a nada, diz o budismo. Concordo, mas é tão dificil não se apegar à vida.